Brumas de Laisa Grisi: uma profunda viagem ao mar de memórias da jornalista
Por Pedro Santos
Sendo o passado algo que não se pode tocar, o ato de senti-lo faz com que consigamos acessar boas memórias no interior individual de cada ser, principalmente quando tais narrativas obtidas conseguem relembrar momentos importantes para a formação própria de cada indivíduo. Tal como uma boa contadora de histórias, a jornalista Laisa Grisi viaja para seu passado e acessa, em um baú vasto de memórias, o quão importante foi para si a estadia na universidade, traçando um paralelo entre quem ela é hoje, como profissional e mãe, com quem era no início de sua vida estudantil. Após praticar exercícios físicos, Laisa senta conosco para conversar sobre si mesma. Quase como em uma sessão de terapia, uma completa viagem em transe para o seu eu anterior.
Pessoense de nascença, mas campinense de estadia, Grisi veio para Campina Grande aos seis anos e mesmo sendo absurdamente tímida, sabia que a comunicação não ficaria fora de seu destino. ''Na infância, minha brincadeira sempre era a de me imaginar na televisão, queria ser apresentadora de tevê como Fátima Bernardes ou a Xuxa, sempre gostei muito disso'', conta a jornalista.

Em sua época de vestibulanda, Laisa folheou o livrinho de cursos e decidiu tentar jornalismo. Ao conseguir passar na UEPB (Universidade Estadual da Paraíba) e começar a estudar, a jornalista não tinha idéia do que estava por vir nos anos seguintes, porém, desde o momento em que pisou na universidade, um único pensamento martelava em sua mente: o de que não poderia sair daquele local sem experimentar tudo o que o curso tinha a oferecer. Se desafiar em novas áreas não era nada que a amedrontava e foi, ao participar da Rádio Comunitária do curso, ministrada na época pelo professor Leonardo Alves, na cadeira de Radiojornalismo, que Grisi começou a se afeiçoar pela prática jornalística.
O bate-papo com seus colegas de curso, o contato com o público, a arte de conseguir contar histórias já existentes por outra perspectiva ou a criação de novas narrativas para pautas universitárias fez com que Laisa Grisi se sentisse satisfeita com o caminho que estava trilhando na vida acadêmica e quase profissional. Desistir do curso, ou sequer pensar nessa possibilidade, não era algo que estava no intrínseco daquela jovem estudante. Navegando mais um pouco em suas lembranças, a jornalista relembra de um projeto de extensão que lhe marcou muito: o Repórter Junino.
Dançar com Joaquim e Zabé, com Janjão e Raqué ou com Seu Luís e Dona Yaiá fez com que as noites de São João adquirissem outro significado para a jornalista. Em trintas noites de festa, onde a estudante ouvia os pedidos exacerbantes de bebidas para Mané, a paia avoando ou o som estrondante das pequenas palhoças ecoando músicas de xote e baião naqueles pequenos salões, o olhar dela era iluminado pelo brilho dos balões multicores no céu do Parque do Povo e o fascínio pela arte de narrar histórias dos seus conterrâneos e visitantes daquele festejo era o que incendiava, assim como a grande fogueira do local, o maior desejo presente no coração da jovem: o de se tornar uma grande jornalista.
Com a paixão já estabelecida pela área, seus gostos pessoais moldando a forma que ela entregava seus trabalhos, pela não desistência do que sonhava, Laisa conseguiu seu primeiro estágio na Associação Comercial. Com o curso lhe dando uma inicial bagagem sobre diagramação, a estudante diagramava um pequeno jornal com as principais notícias e enviava aos clientes do local. Seja pela persistência, perfeccionismo, destino ou uma tríade dessas coisas, o contato visceral com o público voltou à vida de Grisi e a estudante conseguiu a tão desejada, para boa parcela dos estudantes da área, vaga de estágio na TV Paraíba, afiliada à Rede Globo.

Assim como em uma viagem, seja ela sensorial ou não, lugares que nos causam medo, no sentido literal da palavra, são visitados. O sentimento amedrontador de não entender o que está vivendo tomou conta do corpo de Laisa nos primeiros meses de estágio e, viver daquela maneira, levou a estudante a acessar sentimentos, até então, inacessíveis do interior. O que ela mais amava dentro de sua profissão era se arriscar, então, as dúvidas sobre o trabalho, o próprio potencial, o receio de errar e o medo de ser imperfeita surgiram várias vezes durante a produção e edição de seus materiais, porém, uma habilidade, quase inconcebível para quem viaja entre suas memórias, foi desenvolvida por ela: a de controlar-se.
Sendo efetivada, a jornalista passou onze anos na maior emissora do estado da Paraíba. O jornalismo de Laisa era dinâmico, assim como sua energia. Nada corria de maneira robótica ou lenta, assim como também não ultrapassava a rapidez de um rio. O mais importante da vida profissional era não ter medo de mudanças, nem do que elas poderiam representar para si. Os desafios eram aceitos rapidamente e executados de maneira ímpar. O dinamismo que a jovem Laisa, já formada, trouxe para a Grisi, profissional e jornalista, a transformou em quem ela é hoje.
Com o Maior São João do Mundo acontecendo assiduamente todos os anos na cidade de Campina Grande, as visitas da jornalista ao local não poderiam diminuir ou ficarem apenas marcadas em um projeto de extensão da universidade, logo, pensando em um público mais jovem e tecnológico, Laisa apresenta o que seria uma de suas marcas na grade do jornalismo paraibano, o quadro ''E aí? PP hoje?'' que tinha como funcionalidade apresentar novidades e atrações do festejo junino, sem complicações ou elegantismo de um jornalismo tradicional.
Há tanto tempo navegando pelas brumas de suas lembranças, Laisa fez o que sua mente ansiava por bastante tempo e tira um tempo para descansar. No dia 10 de junho de 2020, a jornalista tinha em suas mãos a única escolha que uma mãe não poderia conceder: a de amar incondicionalmente seu filho. Esse amor não é uma escolha, ele é limpo e foi nutrido de maneira ímpar pela jovem jornalista, desde o momento em que Alice foi pensada para nascer. Essa nobreza foi o que fez Laisa, diferente do que diz a poeta Hilda Hilst, saber onde termina a aurora de sua presença.

Laisa Grisi vê que esse é o momento certo de parar e olhar apenas para si. Saiu da emissora em que trabalhou por boa parte de sua vida e pensou em seu futuro, não só como profissional, mas também como mãe. Um novo desafio, algo completamente arriscado para ela, porém, como amava as peripécias de sua profissão, sejam as sabidas ou desconhecidas, isso não foi um empecilho para encarar as novas perspectivas que a vida lhe reservava.
Finalizando seu transe, pausando o seu barco em meio a um mar tranquilo, através da grande influência e visibilidade que os anos de televisão lhe deram, a jornalista mostra a sua perspectiva de vida para os olhares de terceiros com os vídeos publicitários que realiza hoje em dia nas redes sociais. Laisa Grisi deixa para os jovens jornalistas que a única oportunidade que a universidade dá para os futuros profissionais é a de arriscar. Tentar de tudo, do mais intermediário ao mais difícil. Não ter perspectiva do que o restante da navegação sobre a vida reserva, viver com o medo do desconhecido mas com a coragem de encarar tal viagem. Ter em si a alma de jornalista até o fim de sua vida acadêmica e levar consigo, em sua vida profissional, o desejo de seguir conhecendo novas histórias.