CANTANDO HISTÓRIAS: COMO A MÚSICA E O JORNALISMO PODEM CAMINHAR JUNTOS

11/06/2023

Por: Luana Medeiros de Farias

Marília Duarte, Rômulo Azevêdo e Thiago D'Angelo contam como a música influenciou a relação deles com o jornalismo.

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

Quando pensamos em música e em jornalismo, raramente fazemos uma associação direta a essas duas áreas, mas você já pensou no que elas têm em comum? Através de ambas as atividades, podemos contar histórias. Essa é apenas uma das características que a música e o jornalismo têm em comum.

Quando fazemos uma rápida análise,pode-se apontar outros pontos como a importância do uso rádio para ambas as áreas, assim como o domínio da arte da palavra. Em contrapartida, elas também têm o poder de dizer muito sem utilizar palavra alguma, como no caso da música instrumental e do fotojornalismo.

Os caminhos pelos quais a tecnologia leva a música e o jornalismo também são parecidos, em parte. O Spotify, que é umas das plataformas de streaming mais populares do mundo, abriga não só música, mas também podcasts com conteúdo jornalístico. Além disso, a digitalização tanto da música quanto do jornalismo parece seguir um ritmo parecido e hoje em dia, ao invés de jornais, revistas, fitas e CD's, consumimos notícias e canções em nossos smartphones ou computadores.

Apesar de todas essas coisas em comum, ainda é raro que relacionemos a figura do jornalista com a do artista. Nos custa imaginar que por trás de toda a seriedade, roupas formais e objetividade que o jornalismo tradicional exige, existam músicos sensíveis. Apesar disso, não é incomum que jornalistas dominem mais do que somente a arte da palavra. Na Universidade Estadual da Paraíba, temos vários exemplos de que a música e o jornalismo podem caminhar de mãos dadas. Conheça alguns deles:

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

MARÍLIA DUARTE

Marilia Duarte é estudante do quarto período do curso de Jornalismo e encanta a todos que a rodeiam com sua voz. Natural de Recife, Pernambuco, a jovem descobriu que sabia cantar na igreja, onde começou a se apresentar em casamentos e eventos quando era criança. Ainda na infância, a dona da voz mezzo-soprano, conheceu e se apaixonou pelo jornalismo quando acompanhou ansiosamente, cada detalhe da cobertura dos atentados as Torres Gêmeas, em 2001. Ali Marília decidiu que seria jornalista e tinha certeza que seria a substituta da Fátima Bernardes. Nos anos seguintes, ela faria as contas de quanto tempo precisaria para conseguir se formar e assumir a bancada do Jornal Nacional.

Já na adolescência, Marília passou a conhecer aos poucos, as "músicas do mundo", através da internet. Antes disso, as únicas canções às quais Marília tinha acesso, eram evangélicas. Em 2017, após não conseguir passar no vestibular para cursar jornalismo, Marília acabou entrando em um processo seletivo para estudar Relações Internacionais na Alemanha, pensando que seria um bom diferencial para quando finalmente conseguisse se tornar uma jornalista. Enquanto o processo rolava, uma amiga a inscreveu no programa musical "The Voice Brasil", no qual ela foi selecionada, chegando a ir para a fase de seletivas no Rio de Janeiro. Chegando lá, Marília soube que havia sido aprovada para a vaga em Munique, largou a oportunidade de participar do programa e seguiu rumo ao país europeu.

"Foi a minha última tentativa com a música porque eu já estava saturada. Uma amiga minha me inscreveu. Fui para Salvador e depois tive que ir para a seletiva do Rio. Quando cheguei lá, soube que tinha sido aprovada pra estudar na Alemanha. O que eu ia escolher? A música ou a universidade? A universidade por que a música nunca me deu nada". – Marília Duarte

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

Apesar da frustração pela falta de oportunidades na música, Marília continuou cantando enquanto estava na Alemanha, fazendo pequenas apresentações e chegando a cantar em programas de rádio. Em 2020, o mundo foi assolado pela pandemia da Covid-19 e Marília voltou para o Brasil. De volta à pátria amada, passou no vestibular para cursar jornalismo na UEPB e agora, no quarto período, seus sonhos com relação a ambas as áreas mudaram. Marília agora quer trabalhar com audiovisual, mas não descarta uma carreira paralela na música.

"Uma coisa está muito ligada à outra, principalmente agora que eu estou no audiovisual. Eu tenho que ter uma sensibilidade maior para som, para tudo. Uma coisa completa muito a outra" – Marília Duarte.

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

RÔMULO AZEVÊDO

Uma característica do professor de Telejornalismo Rômulo Azevêdo que nem todos conhecem, é o seu talento para a música. Ao lado do seu irmão gêmeo Romero, que também é jornalista e de Mica Guimarães, jornalista e professor do curso de jornalismo da UEPB falecido em 2016, montou ainda nos anos 60 a banda "The Silver Boys".

O nome da banda fazia referência ao grupo vocal que fez sucesso na época da Jovem Guarda, os "Golden Boys", e também ao Bairro da Prata, no qual moravam. Na época, as apresentações eram feitas apenas para amigos e familiares. Naquele tempo, os garotos que tinham por volta de treze anos, cantavam acompanhados da banda "Os Ansiolíticos". Rômulo explicou que nunca houve a intenção de transformar o projeto em algo profissional, apesar de seu amor pela música. A forma esporádica em que as apresentações aconteciam também lhe rendeu o título de músico bissexto.

Mais conhecido por sua carreira aclamada no jornalismo paraibano, é possível ver que as suas aptidões artísticas influenciavam diretamente a forma como Rômulo produzia notícias na época em que atuou como repórter. No caso da música, a sensibilidade e o cuidado se mostram, por exemplo, na escolha das canções que faziam toda a diferença no resultado final das reportagens.

Um bom exemplo é uma reportagem sobre ufologia na Paraíba de 1994, onde Rômulo começa escolhendo para a abertura a Valsa Beautiful Blue Danube, de Johan Strauss, que fez parte da trilha sonora do filme "2001: Uma Odisseia no Espaço", de Stanley Kubrik. Em seguida, a introdução à entrevista com Paulo Coelho é feita com a música S.O.S de Raul Seixas – de quem ele foi parceiro de composições e amigo pessoal – que conheceu o escritor através do interesse de ambos por ufologia, misticismo e esoterismo. Nas imagens da Serra da Caxexa, a trilha sonora foi o tema de "Jornada nas Estelas". Tudo muito bem pensado para levar o expectador para o espaço, ou quase isso.

"Sempre fui cercado de discos, de CD 's, de fitas cassetes. A música sempre foi muito forte e presente na minha vida" – Rômulo Azevêdo

Rômulo, que também é diretor e produtor de cinema, também viu no jornalismo uma forma de se realizar na arte da imagem. Ainda adolescente escrevia críticas de cinema que eram publicadas no Diário da Borborema e no Jornal da Paraíba, fazia parte de cineclubes e chegou a ser redator do programa de rádio "A Sétima Arte", que tinha apresentação do também professor do curso de jornalismo da UEPB, Luiz Custódio. Aplicando seu conhecimento na área produziu muitas reportagens cinematográficas durante o tempo em que atuou na televisão.

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

"Eu procurava dar uma edição mais dinâmica, costumava pedir que o cinegrafista tivesse mais cuidado na angulação, no enquadramento das reportagens e assim por diante" – Rômulo Azevêdo

Depois de anos inativo e após o falecimento de Mica Guimarães, o grupo vocal "The Silver Boys" retomou suas atividades contando com as vozes apenas de Rômulo e Romero Azevêdo e segue fazendo apresentações bissextas, ou melhor, dizendo, de tempos em tempos. Quando dá na telha.

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

THIAGO D'ANGELO

Thiago D'angelo é secretário do Departamento de Comunicação Social da Universidade Estadual da Paraíba, graduado em jornalismo e mestre em jornalismo também pela UEPB. Apesar de não atuar na área atualmente, Thiago convive com professores e estudantes de jornalismo diariamente desde que assumiu o cargo de secretário, há dez anos.

A voz grave de Thiago chama a atenção e foi um dos motivos que o levaram a cursar jornalismo, já que ele ouvia frequentemente que poderia se dar bem na área por escrever bem, se comunicar bem e ser dono de um vozeirão. A sensibilidade de Thiago a música se mostrou ainda na infância, através do cinema. Filmes como "De Volta Para o Futuro", "Curtindo a Vida Adoidado" e "O Carro Assassino", marcaram a vida de D'angelo com suas trilhas sonoras que o faziam arrepiar. Na primeira vez que ouviu Beatles, ele sabia que era aquilo que ele queria fazer.

Na adolescência, Thiago teve suas primeiras experiências musicais através de um projeto para uma feira escolar. Por volta dos treze anos, soube que a professora de inglês estava planejando montar uma banda de rock para fazer um tributo à banda dos garotos de Liverpool. Mesmo sem saber tocar nenhum instrumento, ele queria participar. Aprendeu a tocar contrabaixo em três meses e deu um show no dia da feira. A banda "The Beatles Forever" foi um sucesso no evento escolar e ele foi picado definitivamente pelo bichinho da música.

Desde então, a carreira de músico vem em paralelo com outras atividades exercidas por D'angelo. Na universidade, Thiago passou a compor músicas autorais inspiradas, inclusive, por discussões ocorridas na sala de aula.

"Eu escrevi músicas lá na faculdade. 'Vitural' eu escrevi lá. Em uma aula da professora Robéria, eu me lembro de estarmos discutindo sobre o mundo virtual. 'Ernesto Virgulino' eu escrevi no banheiro do São José. As leituras da época me abriram muito a mente" – Thiago D'angelo

Foto: Sara Alcântara
Foto: Sara Alcântara

Atualmente, Thiago vem se apresentando sozinho em bares de Campina Grande. Apesar do caráter mais intimista dos shows "voz e violão", ele procura dar um toque pessoal nas músicas, para trazer um pouco da energia que extrapola dos olhos quando ele fala do amor pelo rock'n roll. De pandeirola no pé, Thiago canta de The Cramberries à Harry Styles.

O amor à música está eternizado na pele de Thiago, que coleciona tatuagens ligadas ao tema. No braço, ele explica que desenhou as ondas musicais do grave. Na perna, homenagens à música analógica. E Para aqueles que pensam em desenvolver atividades artísticas em paralelo com o jornalismo, ele deixa o recado:

"A arte no geral altera a pessoa para seja lá o que for que ela faça na vida dela. As pessoas que desenvolvem qualquer tipo de arte têm uma percepção diferente das coisas. Elas veem o mundo de outra forma. O jornalismo nada mais é do que uma forma de enxergar a realidade. Com suas regras e critérios, mas é" – Thiago D'angelo.

© 2022 Meio Século Jornalismo. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora