Crônica: O Jornalismo que habita em mim
Por: Karen Cirne
"A vida te dá surpresas e as surpresas te dão vida." Em uma frase, Mônica Crema conseguiu descrever e resumir o sentimento que me invade desde que ingressei no curso de Jornalismo, na UEPB. Esse relato inicia de forma simples e até previsível, porém a jornada é inesperada e tem uma certa reviravolta.
As primeiras linhas dessa história começam com o famoso discurso clichê que se resume a "Eu não queria cursar jornalismo, mas foi o que a nota do Enem permitiu que eu ingressasse, minha vontade mesmo era de ser médica ou perita criminal." Esse diálogo tornou-se padrão no EAD durante a pandemia e repetitivo nos primeiros períodos, toda vez que um semestre letivo iniciava, sempre com a constante mudança de docentes, sempre ocorria o mesmo questionamento: Por que vocês escolheram cursar Jornalismo?. Pois bem, para a mesma pergunta padrão, sempre revelei a mesma resposta padrão, e isso passou a se tornar cansativo para mim.
Até que em 2022, período pós-pandemia, o mundo voltava a se adequar aos moldes tradicionais, com escolas em pleno funcionamento, os comércios voltaram a abrir as portas às 8 da manhã, as filas de espera em hospitais ia regredindo, ônibus passaram a lotar a partir das 6 da manhã, com trabalhadores operários fisicamente cansados, mas prontos para mais um dia da rotina mecânica que lhe gerava renda. A vida voltava ao normal. Com a universidade não poderia ser diferente, a UEPB erradicou o método EAD e trouxe de volta as aulas presenciais. E a partir daí, minha rotina, meus pensamentos, minhas vontades começaram a modificar.
Especificamente no semestre 2022.1, estive cursando uma disciplina chamada "Projeto Gráfico em Jornalismo", na época, Arão Azevedo era o professor que ministrava a cadeira, tinha uma competência excepcional, conseguiu em apenas um semestre nos ensinar as teorias que envolviam a disciplina, e um pouco da prática também, tenho enorme gratidão por todo o suporte que ele me deu, foi essencial para que eu pudesse me sentir à vontade em praticar diagramação e perceber que poderia ser uma área que eu tivesse uma boa possibilidade de identificação, algo que não tinha acontecido anteriormente, além de, posteriormente, conhecer uma pessoa que iria mudar completamente minha visão sobre a profissão do Jornalismo, e que dali em diante se tornaria minha inspiração.
Rackel Cardoso foi a professora seguinte, assumiu a cadeira de Laboratório de Projeto Gráfico em Jornalismo. Eu já tinha ouvido alguns relatos positivos a respeito dela, e isso me instigou a querer entender como funcionava a prática das aulas que ela aplicava.
Pois bem, o método de aulas que ela aplicava possuía uma rotina pré definida: Chegava em sala, separava uma parte da aula para aplicar a teoria, tínhamos um intervalo para tomar café e após isso iríamos começar a praticar as diagramações de jornais e revistas. O que eu tinha aprendido anteriormente já tinha despertado um certo interesse dentro de mim, mas após ter aulas com ela, o meu deleite pelo projeto gráfico aflorou ainda mais.
Rackel revolucionou o meu olhar para o jornalismo.
Entre apresentações de jornais, reportagens produzidas, revistas e jornais diagramados fui pegando interesse e compreendendo um pouco mais o universo jornalístico. O curso nos ensina não só todas as funções que o Jornalismo possui, bem como desmistifica a visão retrógrada de que o jornal só é composto de repórter e apresentadores (pensamento que diversas pessoas possuem). O jornalismo vai muito além, ele está na ideia de pauta que um produtor sugeriu e criou, no olhar crítico e na criatividade do repórter, nas imagens feitas e editadas pelo técnico, na edição dos textos que os editores corrigem, na dicção dos locutores ao apresentar um rádio, e na voz que é dada ao povo no Jornalismo e comunitário. O jornalismo se faz presente em todos os lugares.
Hoje, eu entendo que não gostava e não queria realizar esse curso, mas a vida me pregou essa peça, ou melhor, "surpresa", porque eu precisei passar por essa experiência e por esse curso para entender que há certas coisas na vida que você só vai descobrir que possui afinidade para tal, após se permitir passar por elas.
O Jornalismo é uma profissão interessante e desafiadora, e que por mais que eu não soubesse, faz parte de mim, e eu nasci para fazê-lo e segui-lo. Foi assim que eu descobri que a vida me deu uma surpresa, e essa surpresa me deu um objetivo, aliás, me deu vida."
Fotos: Acervo pessoal