Em constante movimento: os encontros e reencontros promovidos pela paixão por assessoria
Da sala de aula à rotina assídua em um escritório itinerante, conheça as motivações de quem lida diariamente com a tarefa de assessorar
Para alguns, uma área que é vista como secundária no Jornalismo, para outros, uma imensa paixão. Independente do ponto de vista, é fato que a Assessoria de Imprensa é indispensável para estabelecer um relacionamento positivo entre instituições e o público alvo com uma comunicação transparente e humanizada. O assessor deve ter jogo de cintura para enfrentar crises e gerenciar as relações com a imprensa, assim mantendo o assessorado em ascensão.
Identificar os pontos fortes do cliente, desenvolver pautas e releases, ter uma boa agenda de contatos, estar atualizado sobre o que é dito sobre o assessorado, explorar as criações e novidades da empresa, produto e/ou pessoa pública e os acontecimentos de maior repercussão são apenas algumas das tarefas que um assessor deve ter na profissão. Com isso são geradas notícias de qualidade, mídia e, claro, visibilidade em diversos segmentos de modo estratégico para o momento, o impacto que deseja causar e quem deseja alcançar, tais como o universo digital, as redes sociais, a televisão, o rádio, podcasts e veículos de comunicação impressos.
Assim como todo profissional da comunicação, o assessor de imprensa deve ser versátil, adaptativo e estar pronto para o que der e vier, afinal a assessoria é uma das ramificações do jornalismo que mais se lida diretamente com pessoas. Por consequência disso, estar cuidando e gerenciando a imagem de algo ou alguém pode gerar conflitos, cansaço e uma certa disputa de egos, o que com paciência e profissionalismo pode se tornar pacífico e bem administrado em meio aos desafios diários.
Nos quase 50 anos de criação do curso de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) inúmeros aspirantes a jornalistas, enquanto ainda estavam no curso, se aventuravam pelas diversas oportunidades que a graduação oferece, alguns já imersos naquilo que desejavam seguir como carreira ou até mesmo estagiando na área de maior identificação. Mesmo com todo o encanto e admiração que o rádio e a televisão tem - sendo por vezes as áreas mais almejadas pelos alunos - a assessoria mostrou que também é ampla e desejada e que, ao longo dos anos, o estereótipo de ser "segunda opção" vem decaindo, visto que esse trabalho vem se tornando necessário no ramo da política, artístico, esportivo, empresarial e muitos outros.
A paixão involuntária pela assessoria
Foto: arquivo pessoal
Skarllety Fernandes é da cidade de Esperança e já tinha a profissão de assessora entrelaçada em sua essência antes mesmo de receber o diploma de bacharelado em Comunicação Social na UEPB. Em 2010, um ano depois da entrada em jornalismo, se tornou vice-presidente do Centro Acadêmico do curso e juntamente aos colegas do CA realizou uma das primeiras calouradas dos amantes da notícia, no bairro do São José, em Campina Grande, e ali ela teve a primeira experiência organizando logística, idealizando a programação e principalmente a divulgação. A partir dali, a assessoria não deixou mais a vida de Skarllety.
Após a graduação passou pela assessoria política e atualmente se dedica fortemente à assessoria de eventos - como dizem, o bom filho à casa retorna. Skarllety trabalha de modo independente, ou seja, determinada empresa e/ou evento a contrata, ela faz o estudo sobre o assessorado e contrata a própria equipe visando a afinidade com o mesmo. "A assessoria demanda entender quem é o público do evento, o que eles querem saber? O que motiva a comprar o ingresso? E a retornar? Como cuidar dessa marca?", é uma reflexão que Skarllety faz. Vir da comunicação é uma vantagem que se tem para entender e estudar o público, além de como e por quais canais comunicar sobre determinado cliente.
A festa mais característica do Nordeste, o São João, foi um dos primeiros grandes eventos que assessorou e, coincidentemente, ele esteve presente em sua vida acadêmica e profissional muitas vezes. Ainda na faculdade, o queridinho dos paraibanos deixou sua marca em Skarllety através do Projeto de Extensão Repórter Junino, após isso, em emissoras de TV, participando das produções e, por fim, assessorando a Prefeitura de Campina Grande e a Secretaria de Turismo que organizava a festa na época. O São João foi algo tão forte para a assessora que ainda foi tema de sua monografia, da especialização e do mestrado, em diferentes eixos de estudo. E, este ano, na 40ª edição do Maior São João do Mundo, recebeu o convite para retornar àquele cenário tão significativo e cativante para todos os nordestinos e assessorar novamente aquela festa em uma nova época. "Foi incrível reencontrar colegas e conhecer novas gerações que estão fazendo a cobertura. Por haver a familiarização com o evento foi tranquilo, porém ao mesmo tempo intenso, afinal foram 32 dias seguidos trabalhando", ela ainda brincou falando que é especialista no São João de Campina Grande.
Quando perguntada sobre se os desafios já a fizeram pensar em desistir, ela relata que não se vê trabalhando em nada que não seja da área da comunicação, pois ela é um leque de oportunidades. "É desafiador lidar com cada assessoria, pois algumas são bem específicas, com diferentes públicos e é preciso criatividade e prática em cada situação", diz ela.
Paciência, saber lidar, engolir perrengues com um sorriso no rosto e exercer tudo com profissionalismo, no modo de comunicar, com as melhores pautas, e como se fosse o melhor evento do mundo são alguns dos conselhos que Skarllety transmite. "Todo cliente quer fazer um Rock In Rio, mesmo por vezes não tendo um orçamento para isso. Mas, pense, seja realista, trabalhe bem e divulgue esse evento como se fosse um grande Rock In Rio, pois quando você trabalhar em um Rock In Rio mesmo vai ser fichinha", finalizou.
A união de duas paixões: assessoria e futebol
Foto: arquivo pessoal
Samy Oliveira é campinense de todas as formas, ele é de Campina Grande, torce para o time do Campinense e, enquanto ainda estava no curso de Jornalismo na UEPB, ao surgir a oportunidade de emprego de atuar no time do coração ele não pensou duas vezes e foi realizar a entrevista no Estádio Renatão. Em 2015 começou a estagiar no Departamento de Comunicação do Campinense e, dois anos depois, foi convidado a assumir oficialmente o cargo de assessor. Em 2023, Samy completou seis anos à frente do cargo.
O Campinense é referência no meio esportivo pelo modo com que faz comunicação no estado da Paraíba, e Samy relata que isso se dá a partir de um processo de mudanças, que busca dar mais liberdade de criação e de referências que são adquiridas pelo network com equipes de comunicação de outros clubes, conversas com os atletas e torcedores, pela atenção às inovações no ramo e o estudo de mídia.
Quando indagado sobre os desafios enfrentados na carreira, ele conta que um deles foi tirar o vício da comunicação esportiva feita em décadas passadas, onde o radialista esportivo não tinha muito filtro, realizava entrevistas em refeitórios e vestiários, não visualizando a expansão que a notícia tem no mundo digital. Outra inovação que ele cita são as coletivas únicas para diversos formatos de comunicação, para evitar que o profissional do rádio, o profissional da TV e o dos portais de notícias façam as mesmas perguntas.
Uma outra mudança específica citada por ele foi a criação da cartilha de regras e normas para organização das agendas de entrevistas e coletivas de imprensa dos jogadores, que agora são marcadas com, no mínimo, 24 horas de antecedência, evitando constrangimentos e também preparando melhor os jogadores para a comunicação direta com os jornalistas. Apesar de ser algo necessário e positivo, isso gerou um descontentamento por parte de alguns veículos, visto que dificultava a diretriz antiga da qual estavam acostumados, de entrevistas em qualquer momento e em qualquer lugar. "Situações como essa mostram o pulso firme que um assessor deve ter", diz ele.
Falando de pulso firme, para administrar uma crise dos resultados antecipadamente e de modo responsável, isso é uma ferramenta fundamental para blindar entrevistas e atletas. Se um resultado ruim acontece uma, duas ou três vezes, as perguntas e respostas se repetem, então deve-se saber o momento de estar e de resguardar. "Você precisa gerenciar a crise enfrentando ela", diz ele. Outro ponto crucial para evitar atritos é o Departamento de Marketing e Comunicação andar lado a lado com todos os departamentos principais de uma empresa, afinal ele deve estar por dentro de reuniões, decisões, da totalidade do que acontece.
Tendo o benefício de ser assessor e torcedor, Samy diz que muitas vezes se coloca no lugar dos torcedores que estão incomodados com alguma situação que o clube está passando, que pensa e conversa juntamente à presidência e diretoria do time para encontrar uma solução para o caso. Ele já esteve ali na torcida, na arquibancada, e vivenciou isso e, hoje, essa visão de dentro e de fora o ajuda a exercer o trabalho humanizado que a assessoria propõe.
A assessoria dispõe de experiências inesquecíveis, ainda mais quando se reúnem duas áreas que encantam um jornalista. Samy relata uma situação que viveu com o atacante Jobson, que ao fazer um gol correu para fazer uma selfie comemorativa que foi postada imediatamente e bateu mais de 20 mil curtidas nas redes sociais do clube. E, claro, o que o encanta é a própria paixão pelo futebol, conhecer outros lugares, outras arenas, a adrenalina de sentir que faz parte daquilo mesmo sem ser jogador. "O ponto mágico é vivenciar. Viver o dia a dia em um clube de futebol, estar ali nas partidas, ver a emoção de um gol de pertinho, ver a rede balançando, o atleta comemorando", encerra com um sorriso no rosto e um brilho admirável nos olhos enquanto usa a camisa do clube do coração.
O retorno da paixão pela assessoria às salas de aula
Foto: arquivo pessoal
Elane Gomes, jornalista campinense com o coração dividido entre a Rainha da Borborema e a capital João Pessoa, formou-se em Comunicação Social pela UEPB no ano de 2008. Apostou no Jornalismo para o vestibular sem ter dúvidas e foi um caminho sem volta, pois relata que é apaixonada pela área, assim como também entende as dificuldades que se tem nela. Atualmente, ela é professora na mesma universidade em que se formou e uma das disciplinas que ministra é justamente o alvo desta matéria: assessoria de imprensa.
Apaixonou-se por assessoria atuando em um período em que a área estava deixando de ser algo complementar e se tornando uma área mais robusta e com mais cara de comunicação.
Começou a trabalhar na Secretaria de Segurança e Defesa Social da Paraíba, rotina que manteve por 10 anos e que destaca a gestão de equipes e a gestão com comunicação pontos chaves que a fizeram gostar ainda mais intensamente de ser assessora, é tanto que ao sair ainda teve experiência com assessoria de eventos e, posteriormente, decidiu seguir carreira na docência.
Para Elane, mesmo sendo uma admiradora do ramo, o volume de demandas no trabalho era o que acabava tornando-o cansativo. É fato que dentro do ofício do jornalismo há uma precarização, sem um horário de trabalho adequado. Por exemplo, na Secretaria quando havia operações de madrugada o celular não parava, a sensação era a de trabalhar 24 horas por dia, e na época era algo normal.
Do trabalho em campo, Elane seguiu para a docência. "Estou apaixonada por ministrar a disciplina de assessoria, pois é a possibilidade que tenho de fazer todo esse processo de reflexão que não tive enquanto profissional. Pensar em um release de forma técnica, trabalhar os conteúdos em sala de aula e ver o brilho nos olhos dos alunos. Essa transição é encantadora!", contou.
Leveza é o que a descreve ao entrar na sala de aula e dar os conteúdos, pois realmente está unindo a teoria com a prática de modo confiante, realmente exercendo o que é chamado de práxis. "Todos os alunos que passaram por mim me impactaram e mudaram meu modo de atuação. Isso é muito bom e tem me transformado! É uma troca enquanto pessoa, não só como jornalista, assessora e professora. Minha maior motivação é o aprender", recorda, por fim.
Com uma perspectiva de mentora, o conselho deixado por Elane é o de prestar atenção no movimento. Jornalismo não é só a técnica, é também a atenção à como se movimentar dentro dessa área, o perfil que se enquadra e os espaços de comunicação. A paixão pela assessoria é o que move o assessor, assim como a realidade move diariamente o jornalista.