Jurani Clementino: A construção de uma carreira jornalística literária

19/04/2023

Por Karen Cirne

"É sentimento, é poesia, é alegria, tristeza, força, coragem, migração. Mas também é beleza, criatividade, é inovação." É com essa frase que Jurani Clementino finaliza sua crônica "Dia do Nordestino", é curioso pensar que ao se tratar ao nordestino, ele também pode fazer uma referência a si mesmo, pois todas as características descritas condizem com a personalidade e essência do escritor e jornalista.

Foto: Débora Leite

Jurani Clementino é professor do curso de Jornalismo, na Universidade Estadual da Paraíba, jornalista e escritor. Natural de Várzea Alegre, no sertão do Ceará, com sua clássica camisa xadrez e feições nordestinas cita a nordestinidade em grande parte dos poemas que escreve, e acredita que a raíz nordestina é estar submerso em um "maravilhoso estado de espírito", como cita na crônica "Dia do Nordestino".

No ambiente onde está habituado a dar aulas, Jurani concede uma entrevista para o Meio Século, e diz que defende a prática do jornalismo profissional em comprometimento com a verdade, pois entende que assim a população brasileira pode exercer a cidadania e a democracia de forma coerente, com pessoas pensantes e não manipuláveis.

Foto: Débora Leite

A decisão dele por optar pela carreira jornalística literária surgiu desde cedo, envolvendo a formação familiar, visto que a mãe era professora, e possuía muitos livros dentro de casa. Sendo assim, apesar de humilde, a infância de Jurani foi repleta de cultura literária, que se juntou ao fato de residir em uma cidade sertaneja muito simples, em que as pessoas precisavam retirar água no poço.

"As pessoas lá no sertão chamavam de "esgotar o poço", tirar a água pois geralmente a noite passava algum bicho, e geralmente aquela água do poço era potável, se tirava de determinadas cacimbas para levar para casa." Ele diz.

Um dia, a curiosidade veio e despertou em Jurani o interesse pela leitura, ele começou lendo livros que a mãe tinha em casa, mas nunca se esqueceu da primeira obra infanto-juvenil que lhe ganhou o coração, chamada "As Aventuras de Tibicuera", de Érico Veríssimo. O livro fazia referência a inúmeros movimentos revolucionários brasileiros de forma lúdica, levando Jurani a cair nos encantos da paixão por versos metafóricos, assim, descobriu pela primeira vez que queria ser um escritor.

"O primeiro livro que me causou um "espanto" era de Érico Veríssimo, era um livro infanto-juvenil: "As aventuras de Tibicuera" era um menininho que era um índio que não morria, e ele acaba acompanhando todos os grandes movimentos revolucionários do Brasil. Acaba sendo um livro meio que história mas também mistura essa coisa da literatura e da ficção."

Foto: Débora Leite

Com a vontade de ser um escritor em mente, ele enfrentou diversos desafios durante a sua jornada acadêmica e profissional, saiu de Várzea Alegre, no Ceará, para Campina Grande, na Paraíba. O professor entendeu que cursar Jornalismo seria a sua melhor opção, pois tinha conhecimento de grandes escritores que também eram colunistas de jornais. Assim, ingressou no curso de Jornalismo na UEPB, ali, acabou desvendando outra relação afetiva, dessa vez, o amor pelo jornalismo.

Embora a sua história amorosa com o jornalismo estivesse começando, trabalhar com o isso inicialmente também foi difícil, Jurani conseguiu uma vaga de estágio para trabalhar na redação de um jornal televisivo, ele conta que o telejornalismo não era bem a sua área, mas conseguiu ludibriar os subterfúgios e conseguiu se enquadrar na rotina que lhe foi proposta. Depois de um tempo, passou a cursar Mestrado, mas nunca desistiu da sua carreira de escritor, sempre veio postando seus conteúdos na plataforma Paraíba Online desde 2009.

Foto: Débora Leite

Hoje, Jurani atua como professor substituto na UEPB, pratica o jornalismo subjetivo e continua encantando as pessoas com os poemas e crônicas que trazem consigo uma essência crítica e de certa forma metafórica sobre diversos assuntos diferentes. Umas das suas obras mais famosas são: O livro "Memórias sertanejas: Tardes, calçadas, redes e alpendres" que narra as experiências vividas pelo autor no seu tão amado sertão, bem como a crônica "Os Ariados" publicado na plataforma Paraíba online, na qual versa sobre a experiência tanto dos primos quanto dele que foram emblemáticas, já que misturava o sertão nordestino seco, onde tinham casas de taipa, florestas, poços e gente humilde, com a capital paulista, fria, úmida, com enormes edifícios e girando em torno da modernidade com pessoas familiarizadas com as mais altas tecnologias de ponta. Ao mesmo tempo em que as culturas se fundiam, era perceptível a discrepância de duas regiões diferentes que, ainda assim, faziam parte do mesmo país.

Foto: Débora Leite

Para ele, o jornalismo e a literatura caminham juntos, com a intenção de levar conhecimento e cultura, aliados em uma espécie de "mutualismo" que instrui para que as pessoas sejam mais racionais e empáticas simultaneamente, permitindo que o jornalismo sério atue com um olhar mais afetivo, impactando de forma direta na vida da população, contribuindo para a formação de uma sociedade que age em prol do bem comum. 

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