O poder de catalisar vidas a partir da cultura: conheça o programa de extensão Campina Cultural

04/12/2023

 Extensionistas do Campina Cultural participam de momento de contação de histórias e reflexão com alunos da EDAC. (Foto: Taysom Maytchael)

Uma área cada vez mais abrangente e presente no dia a dia do consumidor de informação, o jornalismo cultural vem sendo uma porta de entrada para muitos profissionais da comunicação.

Se ligarmos o rádio, existe programação de emissoras públicas que dedicam horas de conteúdo voltado ao debate e à divulgação de produtos relacionados a esta área da comunicação. As emissoras comerciais também têm um papel fundamental neste setor ao divulgar notas sobre shows, espetáculos e exposições em locais públicos e privados. Muitas delas também proporcionam aos seus ouvintes o sorteio de ingressos desses eventos.

Na televisão, seja canal aberto ou fechado, as emissoras sempre dão espaços ao veicularem reportagens e programas especiais dessa temática. Um grande exemplo é o Metrópoles, da TV Cultura, e até mesmo produções especiais no Fantástico, da TV Globo. Na TV fechada, podemos citar exemplos como o programa O País do Cinema, do Canal Brasil e de toda a programação do Arte1, do Grupo Bandeirantes.

Já na internet, existe o que chamamos de "nicho" ou segmentação. Diversos portais e perfis em redes sociais conseguem cobrir determinado conteúdo, dependendo do seu público. E existe um engajamento cada vez maior nesta área.

Mas até que ponto trabalhar com jornalismo cultural se resume a passar a "agenda do dia" ou a discutir os assuntos do momento nas redes sociais? Fazer jornalismo cultural é apenas debater sobre os grandes nomes da nossa cultura? E como ficam as grandes histórias que estão por trás de algum artista do seu bairro ou da sua rua? Para tentar responder a essas e outras perguntas, o Meio Século conversou com a professora e coordenadora do Campina Cultural, Ada Kesea, e com Eduardo Gomes, um dos idealizadores do programa.

                                        A coordenadora do "Campina Cultural", Ada Guedes, e um dos idealizadores do programa, o estudante Eduardo Gomes (Foto: Arquivo Pessoal)

Com graduação em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo pela UEPB, mestrado em Sociologia pela UFPB, doutorado em Ciências Sociais pela UFCG e com atuação principalmente em cultura midiática, Ada coordena o Campina Cultural há 3 anos, a partir da mobilização dos estudantes Bruna Araújo e Eduardo Gomes, que também são ativistas midiáticos da cultura local.

A proposta seria evidenciar a diversidade cultural da região de Campina Grande a partir de um olhar de quem está diretamente ligado na cena cultural da cidade e que, na maioria das vezes, está às margens da cobertura da grande mídia. Eduardo e Bianca levaram e apresentaram a proposta para Cristóvão Andrade - então pró-reitor de cultura e seu professor de Sociologia - e Ada Kesea, que ministrava a disciplina de Jornalismo Impresso aos dois.

E Ada teve uma atuação primordial para que o Campina Cultural saísse do papel. Foi ela quem mobilizou a estrutura organizacional e burocrática da UEPB para que o até então projeto fosse submetido a edital e, por conseguinte, tivesse a sua aprovação.

O jornalismo cultural como meio de mudança social

A ligação de Ada com a cultura a fez correr para que uma ideia se tornasse realidade. Nas suas próprias palavras, "a cultura é o que demarca a identidade de um povo, seus fazeres culturais marcam sua existência, seus códigos, suas formas de ver e viver o mundo". E ela queria algo além de prestação de serviço.

"O papel do jornalismo cultural deve ir além de agendas e divulgação de eventos. Isso é uma prestação de serviço que está na superficialidade da área que tem raízes e deveres muito mais profundos de despertar a criticidade do sujeito para nossas identidades e bens culturais", afirmou Ada.

E Eduardo conseguiu detectar essa realidade e, como ativista cultural, sentiu a necessidade de tentar modificá-la.

"Muitos municípios paraibanos são identificados naquilo que os estudos jornalísticos classificam como desertos noticiosos. Imagine como um artista, por exemplo, se vê em um lugar no qual o seu fazer e saber dificilmente alcançaria novos públicos e espaços. E é aí que a narrativa jornalística ganha forças. É esta prática que pode possibilitar que o artista e suas atividades possuam nome e sobrenome, que existam para mais pessoas", ressaltou.

Extensionistas Ana Flávia Aires e Ana Luísa Rocha na atuação do Forcult Nordeste. (Foto: Taysom Maytchael)

E foi partindo dessa ideia que o Campina Cultural surgiu, para dar espaços àqueles que não têm tanta visibilidade nos meios tradicionais, abrangendo uma área de cobertura com 47 cidades que compõem a chamada Região Imediata de Campina Grande, conforme explicou a coordenadora.

"Hoje, a gente conta com um programa de extensão com cinco projetos ancorados. São três projetos articulados para redação jornalística, sendo o primeiro dedicado à produção factual, a partir da escassez de notícias em cidades que não dispõem de veículos de comunicação; o segundo é para produção de reportagens e entrevistas especializadas em cultura; enquanto que o terceiro é para produção de conteúdo para o Instagram", disse Ada.

Mas, além dele, o Campina Cultural também oferece projetos dedicados às produções em artes midiáticas, no turismo cultural e na realização de eventos, encontros, oficinas e cursos de formação. "O programa tem contribuído diretamente com a cultura na região por proporcionar democratização dos espaços midiáticos e fortalecer a rede de cultura junto a fazedores e ativistas da cultura regional, bem como proporcionar a interlocução com esses sujeitos que tanto tem a nos ensinar", afirmou Ada.

O reconhecimento

                                       Ada Guedes e Eduardo Gomes no IV FORCULT, que aconteceu na sede da Universidade Estadual da Paraíba (Foto: Arquivo Pessoal)

Todo esse engajamento em nome da cultura local vem colhendo frutos, já que em um levantamento feito pelo Atlas da Notícia, o Campina Cultural aparece como o único veículo especializado em cultura online e ativo na Região Imediata de Campina Grande.

Mas para Ada, além do reconhecimento profissional, o Campina Cultural é reconhecido por lhe proporcionar grandes histórias. "Ver os alunos sendo reconhecidos como repórteres nesses espaços culturais é gratificante para mim e para eles. Ver TVs e outros meios tradicionais abrindo espaço para um mestre da cultura que estava ali invisibilizado, e que foi personagem de uma de nossas reportagens é o nosso objetivo. E isso marca. Marca pautar um grande veículo de comunicação. Marca também ver um mestre da cultura elogiando a matéria de um aluno extensionista que conseguiu captar a essência da pessoa e escrever sobre ela de forma acertada e sensível".

Para Eduardo, o reconhecimento do Campina Cultural junto ao setor da cultura é a melhor das experiências com o programa de extensão. "Chegamos a espaços como o Salão do Artesanato Paraibano, como equipamentos culturais diversos ou junto de coletivos artísticos e sabemos que, ao falarmos de nossa iniciativa, há um reconhecimento de nossa importância e de nossa responsabilidade por quem faz cultura e por entusiastas também", declarou.

Segundo a professora orientadora, aumentar o número de alunos participantes e ampliar os projetos ancorados do Campina Cultural é uma das lutas para os próximos anos. "Também é preciso fortalecer nossas parcerias com associações, mestres da cultura e com fóruns de cultura regional e nacional que já foram estabelecidas", disse Ada.

O amor pelo programa

 Extensionistas do Campina Cultural participam do IV Forcult Nordeste em parceria com a PROCULT/UEPB. Foto: Taysom Maytchael

O processo de mobilização social junto ao jornalismo vem mudando ao longo dos anos. A disputa por um espaço para a cultura na prática das redações vem sendo um desafio enorme para quem vive do jornalismo cultural. Com cada vez menos espaço - principalmente nas grandes mídias, o Campina Cultural vem desempenhando um papel único para o cenário cultural campinense.

Trazer grandes histórias e lutar para que essas histórias sejam reconhecidas é o principal catalisador do programa. Gerar todo um movimento em prol da cultura local dentro de uma universidade pública foi o principal fruto que o programa trouxe para Ada.

"Ver os alunos do curso se interessando pela cultura regional e lidando com ela de forma responsável e crítica é um grande resultado. Perceber o quanto essa ligação entre estudantes e produtores culturais têm proporcionado visibilidade para esses sujeitos", concluiu.

O poder que o programa tem de mudar a realidade de estudantes e disseminadores da nossa cultura poderia ser um resumo perfeito do que é o Campina Cultural, mas Eduardo Gomes conseguiu resumir melhor:

"O Campina Cultural é movimento, tal como expressa o nosso manifesto. O Campina Cultural é uma iniciativa feita em muitas mãos que se juntam para relatar os feitos e fatos de nossa gente. É um nó que se estabelece para tecer e pertencer a uma rede de fazeres artístico-culturais e comunicacionais de nossa terra", finalizou.

Produção: Caio Oliveira

Reportagem: Caio Oliveira

Supervisão e Edição Geral: Karina Marques

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