OPINIÃO: Os padrões de vestimentas do telejornalismo foram escritos em pedra?
Por: Emanuelly Lucena
Exibido em horário nobre, o Jornal Nacional é um dos telejornais mais antigos do Brasil. Tudo iniciou em setembro de 1969, quando se tornou o primeiro jornal exibido a nível nacional, assim, se tornando uma figura padrão para todos os outros telejornais que seriam criados desde então. Devido a amplitude de alcance, em 1983, quando começou a receber reportagens de todo o Brasil, uma das principais preocupações dos editores era a forma como os repórteres estariam vestidos, afinal, os padrões utilizados no JN se tornaram referência para o vestuário dos telejornalistas.
Devido a tamanha repercussão, a TV Globo criou uma espécie de dress code, onde as apresentadoras não poderiam usar blusas de alça, decotes, jóias grandes demais ou brincos extravagantes. As cores deveriam fugir do branco e as estampas deveriam ser o mais simples possível, preferindo os tecidos lisos e sem muitas informações. Assim, o padrão mais simples seria: terno, camisa social e sapatos como scarpin, por exemplo.
Esse dress code já foi tão forte e rígido, que qualquer coisa que fuja do antigo padrão pode gerar comentários entre os que acompanham o telejornal, como por exemplo, a Renata Vasconcelos, que trabalha no Grupo Globo desde 1996, recentemente apareceu em uma das chamadas do Jornal Nacional de tênis, o que gerou diversos comentários nas redes sociais.
Outro exemplo no mesmo telejornal, foi em março de 2016, quando ao noticiar um atentado terrorista na Europa, a jornalista Ilze Scamparini usava um par de óculos azuis. O simples acessório foi capaz de criar comentários nas redes sociais, onde pessoas questionavam se a jornalista teria saído de uma festa de casamento direto para o jornal, ou então, pediam para que ela colocasse um óculos decente para poder noticiar. É válido ressaltar as transformações expressivas que o dress code vem sofrendo, do contrário, não teríamos alguém com tênis ou com óculos em rede nacional, afinal, tudo isso era proibido.
Acontece que, com o passar do tempo, os costumes, os padrões de vestimentas mudam e o trabalho também muda. O tempo, o sujeito e a vontade não são mais as mesmas, nada permanece da mesma forma por muito tempo, então porque os códigos de formalidade devem permanecer os mesmos? Não podemos esquecer da discussão do que é forma-informal, entretanto, em pleno 2023 é mais importante a veracidade da notícia passada ou o modelo de calçado que a jornalista está utilizando?
Para que falas como as que foram ditas para a Scamparini se tornem nulas, é necessário que a nova geração de jornalistas entenda que mais vale o conforto físico e uma roupa confortável, do que seguir o código proposto a tanto tempo atrás. Claro que isso não anula a formalidade mas quem disse que preciso de um terno e scarpin para ser formal?