Crônica: Rabiscos de uma quase jornalista
Por Karen Baracho
Quando completei 10 anos, minha vó Dôra me contou que sonhava em ter um livro escrito por seus netos, me pediu para escrever uma história e colocar em um pendrive para ela guardar de lembrança. Neste dia, ela me levou até a biblioteca dela e deixou que eu escolhesse quantos livros eu quisesse, saí de lá com 8, entre eles: ''O Homem que Matou Getúlio Vargas'' de Jô Soares. Aquilo me despertou uma curiosidade sobre a carreira de Jô, e embora ele não fosse formado em Jornalismo, era, e ainda é, uma grande referência da área. Naquele momento eu entendi um pouco mais sobre o papel de um jornalista e ao contemplá-lo, pensei se cabia algum rabisco meu nele. Minha avó nunca recebeu os meus ensaios de livros, dois anos mais tarde ela se foi e não realizou esse sonho.
Quando ingressei no curso de jornalismo, sentia medo de não me encontrar, mas esse sentimento não resistiu à primeira semana de aulas. Vi no Jornalismo a chance de pôr em palavras meus sentimentos, de fazer minha voz chegar a lugares onde nunca imaginei, de transmitir ao público ao menos uma parte da imensidão de conhecimento que meus professores me proporcionaram. E prometi a mim que realizaria o sonho da minha avó. A sensação que eu tive ao assistir a primeira aula presencial no período pós-pandemia foi deliciosa. Ver meus professores, que durante tanto tempo eram menores que um lápis na tela do meu computador, foi gratificante, expressar-lhes um sorriso de gratidão e levar comigo um pouco de cada um foi e é uma coisa divina, acredito que a graduação em jornalismo é uma das mais acolhedoras.
Tenho observado constantemente detalhes naqueles que me ensinam, e que lembram minhas maiores referências, minha avó que também era professora universitária e meu pai que apesar de não curtir estudar, é uma das pessoas mais inteligentes que conheço. E nesses momentos eu sinto felicidade absoluta em saber que estou sendo bem guiada pelo caminho certo. A Universidade não só me proporcionará um diploma, tenho certeza que sairei da UEPB carregando boas lembranças, amizades e histórias para contar.
No dia primeiro março quando retornamos das férias e tivemos a primeira aula com o professor Cidoval Souza e ele falou: ''Sem paixão não somos nada'', e eu respondi mentalmente: "Ainda bem que eu tenho o Jornalismo".
Não sei como será o processo de comemoração do primeiro século do curso de Jornalismo na UEPB, mas eu sei como será na metade e sou grata por poder participar, orgulhando Dona Dôra que mesmo sem saber na época, me guiou rumo a minha paixão.
Nestes 50 anos, a graduação de Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba realizou muitos sonhos, promoveu muitos encontros e merece ser celebrado por isso!