Sobre escolhas do destino: Cidoval Morais e a comunicação
Por Malu Farias
"Escolha", substantivo feminino que representa o ato de selecionar algo de acordo com sua preferência. Segundo a mitologia grega, três irmãs conhecidas como Moiras determinavam o destino dos homens. "Destino" substantivo masculino que pode ser entendido como tudo é escolhido pelas leis naturais, sina, sorte ou futuro. Não se sabe ao certo se Cidoval escolheu ou foi escolhido pelo Jornalismo. O destino poderia até atrever-se a dizer que não, mas o curso da vida rendeu-se ao encontro dos dois.
Foi no âmago da infância que o também sociólogo aproximou-se da arte de comunicar. Se o êxodo rural pudesse conversar com as Moiras, lhes confidenciaria que o menino carregava o dom e a devoção pela escrita. "Sempre tive paixão por escrever. Comecei logo cedo, com uns 7 anos, já escrevia cartas no sítio em que morava para mulheres cujo os maridos viajavam em busca de emprego no Sul, na época chamadas de viúvas da seca.", comentou o professor Cidoval.

Daí por diante, enveredou no caminho de maneira que não se fazia entender que seria esse um dos rumos da sua vida. Foi através do jornalzinho produzido na escola, da comunicação na igreja, na apresentação de anúncios na rádio local que o destino o encaminha para a profissão.
Quando precisou subir a Serra da Borborema, após ingressar no curso de Sociologia da Universidade Federal de Campina Grande, viu em um anúncio a oportunidade de se estabilizar na cidade a partir de um teste para repórter de um jornal impresso. Com a coleção de experiências na comunicação, em meados de 1985, Cidoval passou em primeiro lugar para ocupar a redação do Diário da Borborema.
Lembra com carinho da experiência dos primeiros trabalhos, sobretudo da primeira matéria publicada. O material consistia em reunir opiniões dos campinenses acerca de uma constituinte. Após uma semana de produção, ele recorda com gratidão a sensação de ver seu texto impresso em uma página inteira no jornal de domingo. Relembra também que o texto foi publicado com algumas modificações e se diverte ao falar sobre isso. Tal trabalho rendeu a Cidoval, pouco tempo depois, a condição de ser editor de política. Cobriu as primeiras eleições diretas depois da ditadura militar, a primeira eleição para governador e alguns fatos históricos do cenário político paraibano.
Em 88, mesmo na condição de não ser - academicamente - um jornalista, o então estudante de sociologia se destacou e foi convidado a compor a chefia de redação da TV Paraíba, migrando do jornal impresso para o telejornal. Foi aí que Cidoval sofreu pressão por parte dos sindicatos da categoria que pediam seu registro profissional. O destino, as Moiras ou as escolhas, fizeram com que o paraibano ingressasse, nos anos 90, no curso de Comunicação Social na Universidade Estadual da Paraíba.
Com o curso, sobretudo com a prática, aprendeu que: "o jornalista precisa ter e criar condições de ouvir as pessoas, é ouvindo que se capta a melhor informação, é ouvindo que você pode observar melhor o gestual das fontes e isso também acrescenta as informações", aprimorar o texto vendo referências, potencializar a leitura para se destacar na escrita, o respeito pela informação e a paciência pedagógica com os furos, e principalmente, que o jornalismo acontece, de fato, nas histórias das pessoas.
Com o mestrado em sociologia rural, Cidoval uniu suas duas áreas profissionais em um único código: o conhecimento interdisciplinar. Tornando-se, também, autor de livros como: "Cartas a Paulo Freire", "Ciência, Tecnologia e Sociedade: Enfoques Teóricos e Aplicados" e sua obra áurea: "Processos de Regionalização Midiática" que deu início a uma gama de conhecimento e estudos a respeito da Comunicação e Desenvolvimento.
"Entrei nesse campo estimulado pelo professor Zé Marques de Melo, em saudosa memória, e foi com ele que eu produzi os melhores trabalhos. Escrevi uma obra singular e que marca esse processo com ele: Processos de Regionalização Midiática. Nesse contexto, nasceu lá em Taubaté onde eu trabalhava na época, e logo na sequência aqui em Campina Grande, a disciplina de Comunicação e Desenvolvimento que foi criada na UEPB pelo professor Luis Custódio com a participação do professor Roberto Faustino e outros do grupo que eu tive o privilégio de participar, logo que cheguei aqui depois de uma temporada fora em 2007."
- Cidoval Morais
Aluno da instituição, ele volta para casa como professor. E no meio século do curso que o escolheu, escreve os próximos 50 anos do curso através dos seus alunos. Destino ou não, a história que mora em Cidoval caminha lado a lado com a trajetória da comunicação paraibana.