Um acervo atemporal: quantas criações, fragmentos e definições podem estar contidas em Meio Século?

15/12/2023

                                               Foto: Acervo pessoal

Em uma sexta-feira comum, ela ouve um episódio de um podcast qualquer e naquele instante uma frase a escolhe para tomar o posto de reflexão do dia: "Você não precisa mudar o mundo todo, precisa mudar o mundo à sua volta", foi o que os fones de ouvido de Rackel Cardoso - mulher, mãe, jornalista, eclética, comunicadora de coração, um tanto exigente e professora universitária - reproduziram e o que acabou a marcando letra por letra.

Rackel Cardoso não desejava ser professora. Enquanto ainda era uma aspirante à jornalista ela gostava da prática, de buscar pautas e contar histórias, e esse pensamento se manteve por um bom tempo em sua jornada profissional, até que em uma virada de chave na sua vida, decidiu se encaminhar para o mestrado, com a intenção de aprender mais sobre as inúmeras possibilidades que o jornalismo oferece. Esse novo capítulo de sua trajetória realmente fez jus à sua intenção e a fez explorar mais ramificações do jornalismo, inclusive a que rendeu a última denominação citada anteriormente, a de professora universitária, felizmente indo contra a maré do que pensava enquanto estudante.

Na Universidade Estadual da Paraíba, a jornalista e professora assumiu o componente curricular de Laboratório de Jornalismo Digital no curso de bacharelado em Jornalismo, uma disciplina abrangente da qual, ainda no período do ápice da pandemia do Covid-19, trabalhava a produção de conteúdos jornalísticos para o Projeto Mascarados, que tinha como foco o mundo pandêmico. No retorno às aulas presenciais, no início de 2022, houve a necessidade de mudar o foco do projeto trabalhado na disciplina, afinal a rotina das pessoas estava voltando ao normal.

Em uma reunião de pauta com a turma do sexto período do 2021.2, a ideia de um projeto que abordasse os cinquenta anos do curso de Jornalismo - que seria comemorado no ano seguinte - surgiu, e não houve dúvidas, aquele seria o novo projeto a ser trabalhado na disciplina. "Foi bem emocionante, todos - inclusive eu - estávamos vindo do online, e me marcou por ser a primeira turma presencial. Eles tinham o Meio Século como um estágio, já que não tinham tido contato com a prática jornalística antes", disse Rackel ao relembrar o nascimento daquele rascunho que se tornaria um artefato grandioso no departamento.

Em mais de um ano na ativa, e com a participação de quatro turmas, o Projeto Meio Século conseguiu recontar boa parte da história do curso de Comunicação Social - que posteriormente se tornaria a atual graduação em Jornalismo -, desde a fundação, até a transferência do prédio do antigo bairro do São José para a Central de Aulas, no Bodocongó, pessoas que fizeram e fazem parte dessa história; marcos importantes; e a própria evolução do Jornalismo desde 1973.

Tudo isso em conteúdos que foram destinados à publicação no próprio site, nas redes sociais, em podcast e videocast, em revistas, ebooks e em documentário. O talento que geralmente não é visto nas redações, está em demasia nos corredores da universidade e, para Rackel, o maior ganho do Meio Século foi fazer os alunos aparecerem, mostrarem os trabalhos desenvolvidos para que, desse modo, fosse visível o potencial existente em cada um. Ela salienta que o conteúdo produzido não foi apenas um trabalho para a nota - aliás, isso foi o menos importante -, foi um trabalho realizado para o presente e o futuro dos aspirantes a jornalistas que diariamente tem a UEPB como uma casa acadêmica.

Porta de entrada, termo presente no dicionário de sinônimos do Meio Século

Escolher o curso dos sonhos não é uma tarefa fácil, ao se despedir do Ensino Médio inúmeras dúvidas vêm à mente do adolescente quase adulto: "O que eu gosto? O que eu quero para o meu futuro? Qual carreira quero chamar de minha?", esses são questionamentos naturais, e no meio do caminho, ao encontrar as respostas para eles, pode ser que elas ainda não sejam certezas.

Giovanna Morais, após pensar e repensar bastante na possibilidade de embarcar no curso de Arte e Mídia, diz que o Jornalismo acabou a escolhendo. Hoje a estudante está no oitavo período da graduação e se identifica com as áreas de marketing, social media e gestão de redes sociais.

Durante sua passagem pelo Meio Século, na segunda turma do projeto, assumiu justamente a função que mais tinha intimidade, a de social media, e aproveitou ao máximo o espaço que tinha para mostrar seu trabalho e aumentar seu portfólio. Dos erros de gravação e perrengues com materiais às trends que viralizaram - a exemplo do famoso vídeo que faz referência à novela Senhora do Destino -, tudo contou como aprendizado para a estudante, aprendizado este que, inclusive, a levou além dos corredores da UEPB.

Após colocar em prática seu desempenho diante das câmeras e o bom gerenciamento e entendimento das redes sociais, Giovanna foi vista, através das redes sociais do projeto e foi convidada a estagiar no IOA IOP, um instituto de pós-graduação em odontologia. Hoje, ela faz parte do setor de Marketing, atuando como social media. Tudo relacionado à comunicação, de vídeo à solicitação de artes, é de responsabilidade dela. Além disso, ela também trabalha em uma agência de publicidade que tem uma parceria com o instituto. "Me sinto muito realizada! O material feito no projeto foi essencial para embarcar no mercado de trabalho", diz ela.

Sobre o Meio Século, Giovanna o define como "mais que uma homenagem aos cinquenta anos, ele ajuda e transforma quem está nos bastidores, sendo uma porta de entrada para quem quer crescer na área".

                                               Foto: Acervo pessoal

Modo de explorar, termo presente no dicionário de sinônimos do Meio Século

O Meio Século, além de carregar o título de ser uma porta de entrada para o mercado de trabalho, também foi um local para reafirmar afinidades e despertar a curiosidade em cada ramificação existente na área jornalística. Eric Gomes fez a prova do Enem com duas certezas, a de que não era do time de exatas e a de que gostava de ver o mundo através da lente de uma câmera, fotografando-o.

No curso de Jornalismo, descobriu que além de fotografar, também gostava de diagramar enquanto cursava a disciplina de Projeto Gráfico e, ao embarcar no desafio proporcionado pelo Meio Século, ele assumiu essa função. Eric atuou nas redes sociais fazendo o design dos posts do Instagram do projeto e participou da diagramação da segunda edição da revista desenvolvida pelos alunos, a qual rendeu uma participação no 23º Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste e no Intercom.

Eric foi um dos representantes do projeto na categoria de Revistas Digitais até a etapa Nordeste, e ele relata que nem imaginava que seria escolhido para participar diretamente da competição. "Aconteceu uma reunião, organizamos, e na hora a apresentação foi tranquila. Foi gratificante representar o Meio Século, é interessante tanto para nós quanto alunos, explorando as diversas narrativas que o jornalismo oferece assim como para a própria instituição, de ter todo esse acervo registrado", disse ele.

Na reta final do curso, Eric é autônomo e trabalha com fotografia, focando principalmente em retratos, eventos e fotos corporativas. Antes de participar do Meio Século não tinha tido uma experiência tão prática com a rotina do jornalismo, ele ainda não tinha vivenciado ele de fato. "O Meio Século é onde a gente explora o jornalismo, suas nuances e narrativas muito intensamente", finalizou.

                                               Foto: Acervo pessoal

Treinamento, termo presente no dicionário de sinônimos do Meio Século

O curso de Jornalismo é extremamente prático e iniciar essa graduação na pandemia, onde o contato era limitado, é de uma estranheza imensa, além de ser um grande desafio, mas essa foi a realidade enfrentada por Emanuelly Lucena, que hoje está no sétimo período da graduação.

Ela participou da terceira turma do Meio Século, no início de 2023, e foi durante a estadia no projeto que se sentiu pela primeira vez exercendo a prática do jornalismo. A turma produziu um documentário, e Emanuelly não perdeu a chance de atuar na captação de imagens e edição do material, afinal são áreas das quais ela tem muita afinidade dentro do jornalismo digital.

O documentário teve como foco mostrar diferentes faces do jornalismo, contando uma parte dos cinquenta anos do curso, de profissionais que atualmente atuam no jornalismo e que já foram alunos da instituição, e foi nele que Emanuelly entrevistou alguém olho no olho pela primeira vez, momento que despertou o famoso "frio na barriga", afinal ela estava acostumada com o ambiente remoto. Outro ponto marcante para ela foi o da produção audiovisual chegar ao Comunicurtas, o Festival de Audiovisual da UEPB. "Todo o esforço, as noites mal dormidas, editar o mesmo take várias vezes e diversos outros detalhes da rotina de produção de um audiovisual valeram a pena. É um reconhecimento de uma produção feita com muita dedicação e que enriquece o nosso currículo", diz maravilhada com a conquista deste sonho em sua carreira.

Hoje, a estudante atua no setor de Comunicação da Igreja Verbo da Vida, diretamente no Marketing e na redação do ministério. Ela salienta que a experiência que teve na disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital a auxilia muito na rotina de produção das redes sociais, na escrita, na edição de vídeos e imagens.

Para Emanuelly, o Meio Século é diferenciado, é onde se consegue passar por várias áreas da comunicação e colocar o seu coração em pauta. "Estamos no jornalismo porque somos amantes da comunicação, entendemos o poder que a comunicação tem e que ela exige. O projeto promove a construção de conteúdos significativos para a população, para os alunos e para os consumidores em geral. É uma porta de entrada para entender como funciona uma redação, uma agência, o trabalho em conjunto em si" e, ao definir o projeto em uma frase ela diz que "tempo de treinamento nunca é tempo perdido", pois no Meio Século os alunos são treinados para serem bons jornalistas, que entendem o poder existente em um conteúdo bem pensado, bem escrito, bem gravado e bem editado.

                                                Foto: Acervo Pessoal

Superação, termo presente no dicionário de sinônimos do Meio Século

Giovanna, Eric e Emanuelly são apenas alguns exemplos dos muitos alunos que passaram pelo Meio Século e tiveram uma troca mútua com ele. Cada aspirante a jornalista que participou da experiência oferecida pela disciplina de Laboratório de Jornalismo Digital deixou seu legado no projeto, assim como o projeto ofertou a rotina prática de um jornalista, a sensibilidade na criação de um material, o pensamento e a dinâmica em grupo para a criação de um conteúdo, a caça às pautas, a paciência e até mesmo um pouco de estresse nas produções a cada um deles.

Para a professora Rackel Cardoso, o ponto principal do jornalismo é o papel social que ele exerce. "Se você vai fazer por dinheiro ou status, você não vai chegar muito longe. A informação muda a vida das pessoas", ela ainda diz que "o bom jornalista é aquele que não só ama o que faz, mas que faz com amor e dá o seu melhor, independente de onde for" e a disciplina também oferta isso, pois quem coordena o projeto é fonte de inspiração, de empenho e de amor pelo jornalismo, o que tem reflexo na metodologia que exerce e que, como professora, consegue mudar o mundo à sua volta.

Quando indagada sobre uma definição para o projeto, a "mãe" do Meio Século trata ele como superação. Superação dela própria, dos alunos e do curso. Uma superação que vai além da UEPB, que faz o nome do curso ultrapassar fronteiras, que relembra uma parte das pessoas que passaram por ele, dos lugares, que faz as pessoas reviverem e lembrarem com carinho da graduação.

O Projeto Meio Século é um acervo de textos, imagens, áudios e vídeos atemporal e, na reta final do ano em que o curso completou seus fatídicos cinquenta anos, aqueles que fizeram parte da composição deste presente de aniversário expressam mais um termo presente no dicionário de sinônimos do projeto: a gratidão.

                                                 Foto: Débora Leite

Produção e Reportagem: Bruna Messias

Edição e Supervisão Geral: Karina Marques

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